“Nós escolhemos você!”, dizia a voz do outro lado da linha.
Foto: http://www.theodysseyonline.com/things-people-who-get-scarred-by-scary-movies-know-to-be-true
“Nós escolhemos você!”, dizia a voz do outro lado da linha.
Foto: http://www.theodysseyonline.com/things-people-who-get-scarred-by-scary-movies-know-to-be-true
Há pouco mais de seis anos, estive no Alasca com meu amigo Paul, e um dos lugares mais fascinantes que visitamos – entre tantos – foi uma baía chamada Sadie Cove. Naquele cenário praticamente deserto e eternamente iluminado, povoado apenas por animais silvestres e pouquíssimas cabanas como a que estávamos, decidimos nos aventurar em dois caiaques até o final da baía. Enquanto Paul aproveitava seu tempo tirando fotos das águias no céu e dos ursos a distância, eu seguia firme no meu propósito de chegar ao outro lado. Em certo momento, Paul deu-se por satisfeito com o passeio e decidiu voltar; eu segui: cheguei ao meu destino e decidi não descer do caiaque, mesmo com vontade de fazer xixi, em parte porque descer do caiaque sobre a água congelante exigia uma logística além do que estava disposto a enfrentar, em parte por medo de ser atacado por ursos que pudessem aparecer por ali. Ao me virar parar voltar, vejo Paul como um pequeno ponto já próximo à cabana. E uma enorme nuvem negra vindo em minha direção. Começo a remar e percebo que praticamente não saio do lugar… Não há o que fazer senão controlar a bexiga, lutar contra a cãibra e continuar a remar para chegar à cabana antes da tempestade. “Estou vivendo uma grande aventura ou entrando em pânico?”
Foto: Making of “Do Outro Lado da Lua” por Santi Asef
Desde pequeno, sempre tive grande apreço por professores: pessoas que dedicam a vida a ensinar o que sabem ao outro e que, muitas vezes, não são valorizados como deveriam.
Foto: Tom Rickman (08/02/40 – 03/09/18) por Getty Images
“Esqueceram de Mim” foi o primeiro filme que vi no cinema. A extinta sala 3 do cinema da Paris Filmes do Shopping Ibirapuera tinha pouco mais de 100 lugares — provavelmente uma das menores da cidade, mas eu não sabia disso. Muito menos sabia que 15 anos depois trabalharia naquela empresa que por tanto tempo estampou os ingressos dos filmes que vi na adolescência.
A sala estava lotada, e alguém sentou na poltrona à minha frente, bloqueando parte da minha visão. Migrei para a poltrona ao lado, dividindo o espaço com uma amiga. Do mesmo assento, assistimos fascinados às aventuras de Kevin McCallister, interpretado por aquele ator que não sabíamos o nome.
Era 1991 e, para um garoto de sete anos de idade, qualquer assunto que não estivesse nos livros da escola, na Barsa (onde?!) ou em alguma revista era completamente inacessível — incluindo o nome do ator que interpretava Kevin McCallister em “Esqueceram de Mim”.
Um ano inteiro se passou até que uma reportagem da revista Veja enfim revelou o grande mistério.
Disquei do telefone vermelho para o 571-6291 e minha colega de poltrona atendeu.
— Descobri o nome dele! Adivinha! Começa com M!
O mundo mudaria muito nas décadas seguintes, conectando pessoas e espalhando informações de forma inimaginável. Levei 20 minutos para encontrar a reportagem da foto, e pareceu uma eternidade. Hoje basta um clique — literalmente — para saber que Macaulay Culkin é fã de luta livre e World of Warcraft, mede um metro e setenta e divorciou-se após dois anos de casado.
A Liv Tyler da capa do meu fichário hoje está no meu Instagram, onde descobri que seus filhos estão grandes demais para pijamas de bichinhos, e onde posso acompanhá-la enquanto anda a cavalo com a família. É possível até mesmo alfinetar um presidente e receber a resposta por Twitter minutos depois.
Aqueles que até recentemente estavam tão distantes de nós agora parecem estar aqui do lado, suas vidas conectadas às nossas, nossos celulares notificados a cada passo. Mas quanto dessa conexão é real?
Há alguns anos gravei a narração para o teaser de um longa-metragem em desenvolvimento nos EUA. O produtor/editor me conheceu pessoalmente alguns meses depois.
— Cara, parece que eu te conheço há séculos, de tanto que eu já ouvi sua voz! — disse ele no primeiro aperto de mãos.
Sinto que conheço profundamente o apresentador e os convidados de um programa semanal — “Conectados”, vejam só — que legendo há mais de um ano para uma companhia aérea. Até que nos cruzamos pelos corredores e me dou conta de que nem sabem que eu existo. Por que saberiam?
Como roteirista de vídeos corporativos, já perdi a conta de quantas vezes escrevi a frase: “O mundo está cada vez mais conectado”.
Agora só falta dizer: conectado com o quê?
Outro dia fui ao cinema com a mesma amiga — cada um em sua poltrona. Não conseguia lembrar que outro filme o ator do trailer tinha feito. Puxei o celular, abri o IMDb e conferi toda sua filmografia. Depois coloquei o aparelho no modo avião para me desconectar do mundo e enchi a mão de pipoca, aguardando o filme começar.
Foto: Revista Veja, 15 de janeiro de 1992.