Em época de eleição – e em qualquer época, convenhamos – falar mal dos políticos não é particularmente difícil. Mas recentemente uma outra categoria superou os políticos na competição pela minha revolta.
Este ano, depois de estar ausente por duas eleições, decidi exercer minha cidadania e acessei as sabatinas Folha/UOL na esperança de saber mais sobre os candidatos. Tudo o que consegui foi me revoltar contra os jornalistas.
Ainda nos primeiros segundos de transmissão, o mediador – repórter especial da Folha – após apresentar a candidata Soninha, anuncia: “…E os entrevistados de hoje são…”, para em seguida enunciar os entrevistadores.
Durante a sabatina, perguntas do tipo “Qual é o propósito da sua candidatura, já que você não vai se eleger?” davam o tom da conversa.
Na entrevista com Russomano, ouvia-se perguntas como: “A sua empresa produtora de vídeos será beneficiada se o senhor for eleito?” Aí eu me pergunto: sejam lá quais forem suas intenções, o que esperam que ele responda?
É como no formulário do visto americano: “Você está viajando aos EUA para aliciar prostitutas?” Sim, claro. Por que, não pode? Ah.
Mas antes fossem apenas as perguntas óbvias.
Imperava também a falta de organização, dados incorretos, e jornalistas que se interrompiam constantemente, levando os candidatos a implorarem por uma chance de concluir suas respostas. Até Faustão se sairia melhor.
E quando Barbara Gancia elogiou o sistema de transporte de Los Angeles? Achei que assistia a um programa de humor.
Depois, esgotadas as tentativas de associar todo e qualquer candidato ao Maluf, restava apelar para o sarcasmo:
– Candidato, o senhor é o novo Collor?
– O senhor pinta o cabelo?
Mas meu momento favorito foi quando Barbara perguntou a José Serra: “Dizem que o senhor é arrogante, que pede a cabeça de seus funcionários… você acha que isso é porque o senhor é filho único?”
É compreensível que, diante de um político, um jornalista – como qualquer ser humano – queira extravasar sua frustração e até mesmo fazê-lo passar por ridículo. O problema é que políticos conhecem o jogo melhor do que ninguém e, ao atacá-los com sarcasmo, jornalistas que se pretendem sérios ferem a si mesmos e conseguem uma grande façanha: fazer com que os políticos pareçam melhores do que são.